Saúde

Casos sem sintomas ou com sintomas leves “são a chama que mantanãm a contaminação” no Brasil
Cientistas veem Brasil como epicentro da pandemia num futuro pra³ximo e, com dados subdimensionados pela testagem somente de casos mais graves, sem condia§aµes reais de enfrentamento
Por Rose Talamone - 20/05/2020


Projeções indicam que número de casos ainda estãocrescendo de forma exponencial no
Paa­s, mas dados insuficientes prejudicam previsaµes de manãdio e de
longo prazo osFotomontagem

Um dos maiores problemas enfrentados pela ciência de dados no monitoramento do novo coronava­rus são os dados mal coletados e restritos, afirma Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeira£o Preto (FMRP) da USP e coordenador do Laborata³rio de Inteligaªncia em Saúde (LIS) que acompanha a evolução da pandemia em Estados e munica­pios do Paa­s. Para ele, “casos sem sintomas ou com sintomas leves são a chama que mantanãm a epidemia”, já que não são testados e os infectados não fazem um isolamento restrito.

Os boletins oficiais divulgados diariamente sobre o número de infectados não refletem a realidade da pandemia no Brasil, pois se baseiam nas internações; são nesses casos éque são feitos os testes para detecção do va­rus, alerta o professor. Enquanto os registros oficiais mostravam pouco mais de 165 mil infectados no dia 11 de maio, por exemplo, as projeções dos pesquisadores de Ribeira£o Preto chegavam a 2,3 milhões. 

Mesmo projetando o Paa­s como novo epicentro da pandemia, Alves diz que essas estimativas são feitas sempre para baixo, pois a metodologia empregada utiliza o número de mortes pela doença e não o de infectados. E atéesse indicador, feito atravanãs dos a³bitos, também não reflete a realidade, argumenta, já que ele éigualmente subnotificado. O fato éconsiderado grave pelos pesquisadores pois as ações de planejamento e as políticas públicas para controle da pandemia dependem de dados reais. 

Como exemplo, Domingos Alves cita a diferença entre os números utilizados pelo seu grupo e os levantados pela Universidade Federal de Pelotas, estimando a infecção para o Estado do Rio Grande do Sul. Os pesquisadores gaaºchos encontraram, para um mesmo período de tempo, sete vezes mais casos naquele Estado do que os boletins oficiais notificaram. “Eles apontavam o número de infectados em torno de 5,7 mil pessoas, e nós, em torno de 5 mil”, diz.

Gra¡ficos encaminhados pelo pesquisador





Casos confirmados no Brasil e em SP; ao contra¡rio da Europa, nosainda não
estamos descendo a curva, muito pelo contra¡rio. Estamos em plena subida

Usando essa metodologia, o professor afirma que não da¡ para fazer projeções para um futuro mais distante, mas épossí­vel afirmar que os números devem dobrar em uma semana. “Atéonde sabemos, tanto no Brasil como no Estado de Sa£o Paulo, o número de casos ainda estãocrescendo num comportamento exponencial. Ou seja, nosnão conseguimos ver o pico da epidemia ainda. Então, supondo que o crescimento éexponencial, tanto no Brasil quanto no Estado de Sa£o Paulo, esses números devem dobrar num prazo de atéuma semana.” Alves acredita que o afrouxamento das medidas de restrição e mobilidade devem piorar a situação desses números. Para o professor, os munica­pios devem antes apresentar evidaªncias de que a epidemia estãosob controle. “O número de casos tem que comea§ar a diminuir de maneira sustenta¡vel; ou seja, o número de casos caindo em qualquer proporção, num prazo de duas a três semanas, seria uma evidência de que as medidas de contenção poderiam comea§ar a ser relaxadas, mantendo ainda um distanciamento social importante e observando se o número de casos não va£o crescer de novo.” 

Segundo Alves, os munica­pios de Campos do Jorda£o e Sa£o Sebastia£o, no Estado de Sa£o Paulo, são exemplos de locais que estãomonitorando corretamente a pandemia. Sa£o Sebastia£o estãotestando a população e, ao encontrar casos suspeitas ou confirmados, as pessoas são colocadas em isolamento.

 

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